TEM PROFESSORAS QUE A GENTE NUNCA ESQUECE
O governo me custeou um ano na FGV – Fundação Getúlio Cargas – para me tornar economista. Precisavam de economistas na Secretaria da Fazenda. Mas descobri que em números sempre fui um zero à esquerda. Larguei tudo e fui para a Comunicação. Tudo começou numa escolinha rural da Água da Aldeia. Eu tinha a mania de fazer perguntas. Questionava tudo. Talvez já tivesse no sangue o embrião do futuro repórter. Naquele tempo existia a figura do Inspetor de Escolas. Certa ocasião o Inspetor de Escola avisou que ia fazer uma visita lá na escolinha rural. A professora me dispensou mais cedo, temendo que eu fizesse alguma pergunta indiscreta ao Inspetor.
Há um quilômetro da escola vi o carro do inspetor parado. Não pegava de jeito nenhum. Tentava, mas o carro não pegava. Saiu do carro, ergueu o capô, apertou aqui, apertou ali, voltou a acionar a ignição e nada do carro pegar. Preocupado com o horário, franziu a testa e conferiu as horas. Estava começando a aula na escolinha.
Foi quando ouviu a minha voz. Eu voltava da escola com minha bolsa escolar a tiracolo. – “Veja se não está faltando água no radiador”, gritei. Eu tinha experiência com o carro do meu pai. Havia um riacho por ali e perguntei-lhe se tinha algum balde no carro. Por sorte havia uma vasilha. Fui até o riacho enchi o vasilhame, abri a tampa do radiador despejei a água, recoloquei a tampa e disse com segurança: Pode dar a partida. O inspetor de escola acionou a ignição e o carro pegou.
Ia saindo quando o inspetor me chamou. “Obrigado menino. Mas a aula está começando, você não vai?” – Minha professora me dispensou porque hoje vai chegar o inspetor, respondi. – E o que tem uma coisa a ver com outra? Interpelou o homem. – Entra aqui no carro, vou levá-lo de volta à escola. Cheguei de volta à escola, acompanhado pelo inspetor que me elogiou diante da classe. A partir de então a professora me olhou com um olhar lindo que nunca mais me esqueci e passou a me compreender melhor e gostar de mim.
Um dia ela foi removida para outra cidade. Fiquei triste, nunca mais soube notícias dela. Consta que ela nunca me esqueceu e até hoje meus olhos brilham, quando o meu pensamento volta a algum lugar do passado. Aquela professora linda de tez morena eu nunca a esqueci. Foi a base de tudo o que aprendi e escrevo até hoje.
Nesta modesta crônica fica a minha homenagem a todas as professoras.
Alcindo Garcia é jornalista – e-mail; [email protected]