TOCANDO EM FRENTE
Nasci na cidade, mas me criei na roça. Curti a natureza e seus encantos. A passarinhada cantando ao alvorecer e o céu estrelado, sem poluição, mostrando a grandeza do universo pintada pelo Criador. A vivência na roça muito me ensinou na escola da vida, ouvindo o caipira contando seus causos. Sua capacidade de prever o tempo sem necessidade de ver a Moça do Tempo na TV. Uma olhada para o céu, o sentir do vento em sua face e a capacidade cabocla de uma previsão acertada. “Essa chuva vem de madrugada” ou “essa brisa me diz que não vai chover”. Acertava.
Fatores que me encantaram na infância vendo o dedilhar do violão e a voz do violeiro. Posso ter trocado minhas folhas, mas não perdi minhas raízes. Eu as conservo no coração e as rememora cada vez que ouço o Almir Sater cantando dele e de Renato Teixeira “Tocando em Frente”.
“Ando devagar porque já tive pressa / E levo esse sorriso / Porque já sofri demais / Conhecer as manhas e as manhãs / O sabor das massas e das manhãs / É preciso amor/ Pra poder pulsar / É preciso paz pra poder sorrir / É preciso a chuva para florir / Penso que cumprir a vida / Seja simplesmente / Compreender a marcha / E ir tocando em frente / Como um velho boiadeiro / levando a boiada / Eu vou tocando os dias / Pela longa estrada eu vou / Estrada eu sou / Conhecer as manhas e as manhãs / É preciso amor pra poder pulsar /E preciso paz pra poder sorrir / É preciso a chuva para florir / Todo mundo ama um dia / Todo mundo chora / Um dia a gente chega / E no outro vai embora / Cada um de nós compõe a sua história / Cada ser em si / Carrega o dom de ser capaz / E ser feliz / Ando devagar / Porque já tive pressa / E levo esse sorriso / Porque já chorei demais”.
Hoje em contato com a cidade grande, microfones famosos substituíram o radinho de pilha da minha infância que carregava no embornal da saudade. Posso ter trocado minhas folhas, mas não perdi minhas raízes. Conservo-as no coração, na música e na poesia.
Alcindo Garcia é jornalista e-mail: [email protected]