Tocando em frente
TOCANDO EM FRENTE
Alcindo Garcia
Nasci na cidade, mas me criei na roça. Curti a natureza e seus encantos. A passarinhada cantando ao alvorecer e o céu estrelado, sem poluição, mostrando a grandeza do universo pintada pelo Criador. A vivência na roça muito me ensinou na escola da vida, ouvindo o caipira contando seus causos. Suas modas dolentes e seus dedos ágeis dedilhando a viola. A escolinha rural que me ensinou as primeiras letras destas mal traçadas, que hoje compõem histórias. O estilingue que esticava a borracha para atirar a pedra sem acertar o alvo – o pobre de um anu pousado no mourão da porteira. Em voo rasteiro ele passava por mim festejando minha péssima pontaria. Hoje me rejubilo. Nunca acertei nenhum passarinho, são criaturinhas de Deus.
Fatores que me encantaram na infância a contemplar as águas límpidas de um riacho chamado Água da Aldeia. Posso ter trocado minhas folhas, mas não perdi minhas raízes. Eu as conservo no coração e as rememora cada vez que ouço o Almir Sater cantando dele e de Renato Teixeira “Tocando em Frente”.
“Ando devagar porque já tive pressa / E levo esse sorriso / Porque já sofri demais / Conhecer as manhas e as manhãs / O sabor das massas e das maçãs / É preciso amor/ Pra poder pulsar / É preciso paz pra poder sorrir / É preciso a chuva para florir / Penso que cumprir a vida / Seja simplesmente / Compreender a marcha / E ir tocando em frente / Como um velho boiadeiro / levando a boiada / Eu vou tocando os dias / Pela longa estrada eu vou / Estrada eu sou / Conhecer as manhas e as manhãs / É preciso amor pra poder pulsar /E preciso paz pra poder sorrir / É preciso a chuva para florir / Todo mundo ama um dia / Todo mundo chora / Um dia a gente chega / E no outro vai embora / Cada um de nós compõe a sua história / Cada ser em si / Carrega o dom de ser capaz / E ser feliz / Ando devagar / Porque já tive pressa / E levo esse sorriso / Porque já chorei demais”…
Hoje em contato com a cidade grande, microfones famosos substituíram o radinho de pilha da minha infância que eu carregava no embornal da saudade. Posso ter trocado minhas folhas, mas não perdi minhas raízes. Conservo-as no coração, na música e na poesia.
Alcindo Garcia é Jornalista – e-mail: [email protected]