Uso excessivo de celular aumenta risco de tendinite
Como grande parte da população, a farmacêutica Márcia Cristiane tem o costume de ficar frequentemente no celular; além disso, precisa usar o mouse do computador por uma média de cinco horas por dia. Há cerca de dois anos, ela começou a sentir incômodos na região do punho. Como passou logo, não deu atenção. Mas, ano passado, a dor retornou e ela percebeu que estava sem força para pegar objetos. Após consultar um ortopedista, recebeu o diagnóstico: está com uma tendinite e terá de fazer fisioterapia para fortalecer as estruturas corporais envolvidas.
Em âmbito mundial, os brasileiros estão entre os que mais passam tempo em frente à telinha. Em média, costumam investir cerca de 9 horas e 32 minutos diários no celular. Nesse contexto, o Brasil perde somente para a África do Sul, com uma diferença de apenas seis minutos, segundo levantamento do ElectronicsHub. Essa facilidade de ter acesso a tudo com um aparelho que cabe no bolso e pode ser carregado para qualquer lugar a qualquer hora, no entanto, pode prejudicar a saúde.
De acordo com o ortopedista Fernando Henrique de Alencar, da Hapvida NotreDame Intermédica, estudos recentes mostram que o uso repetitivo de celulares está associado a um risco de duas a três vezes maior para desenvolvimento de problemas nas mãos e nos punhos, devido à realização atividades repetitivas, o que provoca fadiga da musculatura e facilita a instalação de processos inflamatórios, as chamadas tendinites ou tenossinovites.
Os especialistas alertam que pessoas que passam muito tempo por dia nos celulares ou computadores devem fazer pausas de, pelo menos, cinco minutos a cada hora. Nessas paradas, orienta Alencar, a dica é alongar e flexionar punhos e dedos, mantendo o cotovelo estendido, intercalando a cada 15 segundos. “Esses movimentos permitem que ocorra o deslizamento de tendões do punho e mão, ajudando a evitar a instalação de processos de inflamação”, explica.
O médico também ressalta a importância de fortalecer a musculatura do antebraço, do punho e da mão para evitar a tendinite de repetição. “Assim, condicionamos nossa musculatura a suportar trabalhos mais intensos com as mãos, diminuindo a ocorrência de processos inflamatórios” afirma. O ideal, recomenda, é fazer exercícios de fortalecimento de três a cinco vezes por semana.
Sinais de alerta
Dores após longos períodos de esforço repetitivo, associadas ou não a inchaço e vermelhidão, são alguns sintomas de tendinite. Esses sinais indicam que é hora de dar um tempo da telinha e repousar, evitando movimentos que provocam a dor, aconselha o ortopedista. Colocar gelo no local de três a cinco vezes ao dia, por cinco minutos, diz, também ajuda a diminuir o processo inflamatório. Entretanto, a imobilização é desaconselhada, pois pode levar à atrofia da musculatura, facilitando novos episódios de tendinite no futuro.
Já nos casos em que a imobilização é indicada, a fisioterapeuta Juliane Taiara, também da Hapvida NotreDame Intermédica, afirma que é preferível o uso de órteses, como também são chamados os imobilizadores, feitas sob medida por terapeutas ocupacionais. “Isso garante uma melhor eficácia”, diz.
Caso as dores persistam mesmo com repouso e esses cuidados, é preciso consultar um médico, que vai avaliar qual o melhor tratamento a partir da identificação de quais tendões estão acometidos.
A fisioterapia, de acordo com Taiara, é um dos recursos para melhorar o quadro, ajudando a aliviar a dor, a alongar e fortalecer punhos e mãos. “No entanto, é a etapa inicial. O alongamento e o fortalecimento devem ser realizados de forma corriqueira em pessoas que usam muito as mãos e punhos no dia a dia”, afirma.
EXERCÍCIOS PARA FAZER EM CASA
Para mãos e dedos
Sequência
mobilidade (*) + alongamento à fortalecimento à relaxamento
(*) Movimentos de mobilidade melhoram a hidratação das articulações, preparando o corpo e facilitando os movimentos.
Mobilidade
• Com as mãos fechadas, gire os punhos para todos os lados e também para dentro e para fora (30 segundos a 1 minuto para cada movimento).
Alongamento
• Estenda o braço, mantenha a palma das mãos para cima e puxe os dedos para trás, alongando toda a palma, punho e antebraço (30 segundos a 1 minuto para cada movimento).
• Com o braço totalmente esticado à sua frente, dobre o punho para baixo com a outra mão e, depois, puxe o dorso da mão em sua direção (30 segundos para cada movimento).
• Apoie o antebraço sobre uma superfície reta, deixando apenas a palma da mão para fora, e faça movimento de flexão e extensão do punho em sua amplitude máxima (repetir 20 vezes).
Fortalecimento
• Com os antebraços apoiados em uma mesa, os cotovelos afastados e um bom alinhamento da postura, aperte uma bolinha de silicone ou de borracha (2 séries de 10 repetições para cada mão).
• Envolva todos os dedos em um elástico de papelaria e faça movimentos de abrir, esticando o elástico (2 séries de 10 repetições para cada mão).
• Deixe o polegar levemente arredondado e encoste lentamente em cada um dos dedos, tocando as digitais (repetir 20 vezes).
• Com a mão aberta espalmada sobre uma superfície reta, abra o polegar em sua amplitude máxima e feche sem desencostar da superfície, fazendo movimento apenas para a lateral (repetir 20 vezes).
Relaxamento
• Massageie toda a extensão dos antebraços, punhos e mãos com uma bolinha de tênis ou borracha, fazendo movimentos circulares e/ou livres, mantendo uma pressão moderada (30 segundos a 1 minuto ou até sentir a musculatura relaxada).
Para ombros e pescoço (musculatura escapular)
• Coloque as duas mãos apoiadas atrás da cabeça e faça movimentos de “abrir” o peito, levando a cabeça para cima e os cotovelos para trás. Solte o ar enquanto expande o peitoral e inspire enquanto volta à posição inicial (10 repetições).
• Gire os braços para trás como as pás de um moinho, mantendo os cotovelos estendidos e com a cabeça acompanhando o movimento das mãos. Expanda o peitoral enquanto solta o ar (10 repetições).