Vínculo afetivo entre gerações
Por Elaine Ribeiro
Nossa história de vida é marcada por laços familiares e herança daqueles que nos formaram e deixaram em nós suas histórias. Neste tempo de pandemia, em que tantas mudanças nos foram impostas, esses laços podem ter sido abalados pela necessidade da separação de nossos familiares e amigos.
Por amor e pelo desejo de cuidar, fomos afastados daqueles que mais amamos e, com isso, sofremos pela distância. Muitos relatam a dor pelo afastamento, que se deu, em especial, com os mais velhos ou de saúde mais frágil.
Para muitas famílias, os avós fazem parte de uma rede de apoio familiar, uma vez que muitos netos são cuidados por eles enquanto os filhos trabalham. E, nesse tempo de readaptação, não foi apenas a falta do cuidado, mas a falta da troca afetiva no desenvolvimento dos netos que chegou para muitos de forma muito complicada.
Ao passo que a vacinação avança e nos traz um pouco mais de tranquilidade para o convívio, com os devidos cuidados para a reaproximação, vamos retomando a vida, os laços, particularmente, com nossos avôs e avós.
Nessa reaproximação é preciso que se avalie bem a condição clínica daqueles que forem se reaproximar dos avós. Se eles cuidam de seus filhos, seja zeloso ao pensar que nem sempre eles poderão estar por perto, caso surja alguma alteração de saúde.
É importante destacar a relação de cumplicidade existente entre avós e netos, sendo uma das heranças mais bonitas existentes em uma família. É no relacionamento com os avós que temos contato direto com nossa história e vamos reconhecendo em nós cada jeito de ser, formas de expor e até mesmo falar, costumes alimentares, hábitos de vida.
Por isso, que possamos refletir sobre como é bom conviver com nossos idosos! Os avós trazem história, memória e experiências. Embora minha avó tenha falecido há muito tempo, trago bem viva em mim as memórias dessa convivência e do carinho. Por morarmos em cidades diferentes, cada viagem era um presente. Ah, quanta saudade! Como é bom e importante aproveitar a presença viva e intensa dos avós.
Num tempo onde falamos tanto sobre as diferenças entre gerações, ao ponto até mesmo de desrespeito entre idades e hierarquia, é preciso retomar a importância da troca entre gerações. Não se trata de excluir, mas sim de integrar. E trazer nossos avós novamente para as relações familiares significa ainda colaborar para a boa saúde emocional.
Na minha prática clínica, foi muito comum perceber queixas de depressão, ansiedade, tristeza, irritabilidade, lapsos de memória, ou seja, um declínio cognitivo significativo esteve presente em idosos, portanto, todos nós tivemos sim, perdas emocionais e físicas nesse tempo, que aos poucos e com todo zelo possível, vão sendo reestabelecidas.
No primeiro Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, 25 de julho de 2021, lembremos das palavras do papa Francisco na sua mensagem para essa data: “Não importa quantos anos tens, se ainda trabalhas ou não, se ficaste sozinho ou tens uma família, se te tornaste avó ou avô ainda relativamente jovem ou já avançado nos anos, se ainda és autônomo ou precisas de ser assistido, porque não existe uma idade para aposentar-se da tarefa de anunciar o Evangelho, da tarefa de transmitir as tradições aos netos. É preciso pôr-se a caminho e, sobretudo, sair de si mesmo para empreender algo de novo”.
Embora a tecnologia seja um grande alívio e fonte de aproximação, os contatos presenciais, são, sim, fonte essencial no relacionamento, troca e formação de nossos vínculos afetivos.
Elaine Ribeiro é psicóloga clínica e organizacional da Fundação João Paulo II / Canção Nova.
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