XENOFOBIA                                   

Por  Alcindo Garcia

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Desculpem a má palavra, mas eu trabalhei com um editor que era um tanto xenófobo. Tinha  aversão a coisas estrangeiras. Ele chefiava a redação e recriminava textos que viessem com palavra, frase ou construção sintática estrangeira. Sabia de cor Machado de Assis, Menocchi Del Picchia e Rubem Braga. Enfim, era um gênio, mas entrava em crise quando encontrava algum estrangeirismo no texto. Chegava a ter um treco. Para se acalmar corria para a copa, amassava um abacate no Lexotan, adicionava uma colher de sopa de maracujina, punha um rivotril adoçava bem e engolia tudo.

Uma vez um redator iniciante escreveu que a pizzaria faria entrega pelo sistema “delivery”. O chefe teve um acesso de xenofobia, arregalou os olhos e começou a suar frio. A redação inteira o acudiu, trazendo-lhe uma pratada de Lexotan com abacate, maracugina, um rivotril  e açúcar. Tão logo se recuperou, ameaçou o redator pelo que achava ser um impropério, dizendo-lhe que na próxima vez seria demitido por justa causa.

Ao contar esta história comecei a achar que o meu exigente ex-chefe não estava de todo errado. As teclas do meu computador, fabricado no Brasil, saiu de fábrica com teclas todas determinadas em inglês: Insert, Home, Power, Sleep, Wake, Page up, Pause break, Scroll lock, Print screen SysRq, Caps look, e vai por ai. Nunca me dei conta por dominar razoavelmente o inglês por força da profissão no rádio.

Este caso me remete à história do fazendeiro que morava na Capital e tinha um administrador que cuidava da fazenda. Voltando de umas férias no Texas, visitou a fazenda e colocou numa bezerra o nome de “Long Island”, que significa “Ilha Comprida” (pronuncia-se Lang Aisland). Como a caipirada não sabia pronunciar o nome da bezerra, o fazendeiro dependurou no pescoço do animal uma pequena placa com o nome “Long Island”.

Passou uns seis meses fora e quando voltou à fazenda, perguntou pela “Long Island”. Pai, mãe e filhos se entreolharam, não entendendo a pergunta. Foi aí que o filho mais novo e mais esperto acabou com a dúvida. “Pai, ele tá falando da vaca “Tabuleta”!…O menino não tinha estudo para enfrentar uma banca examinadora. Nem precisava. Ele sabia traduzir o inglês ao pé da letra.

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                     (Alcindo Garcia é Jornalista) e-mail: [email protected]

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