Diocese de Assis

TESTEMUNHAS DA EUCARISTIA

image_pdfimage_print

“A Igreja vive continuamente do sacrifício redentor, e tem acesso a ele não só através duma lembrança cheia de fé, mas também com um contacto atual, porque este sacrifício volta a estar presente, perpetuando-se, sacramentalmente, em cada comunidade que o oferece pela mão do ministro consagrado.

Ao entregar à Igreja o seu sacrifício, Cristo quis também assumir o sacrifício espiritual da Igreja, chamada por sua vez a oferecer-se a si própria juntamente com o sacrifício de Cristo. Assim no-lo ensina o Concílio Vaticano II: « Pela participação no sacrifício eucarístico de Cristo, fonte e centro de toda a vida cristã, [os fiéis] oferecem a Deus a vítima divina e a si mesmos juntamente com ela” (Carta Encíclica Ecllesia de Eucharistia, nº 12 e 13, p. 17 e 19).

 

“Sem efusão de sangue não há remissão” (Hb 9,22b).

Dom Oscar Arnulfo Romero, assassinato a 24 de março de 1980, com um tiro no peito, por um “esquadrão da morte”, aos 63 anos quando celebrava a missa na capela de um hospital de San Salvador, El Salvador. A guerra civil salvadorenha foi nesse período, de 1980 a 1992.

Seu último sermão, gravado na maior clareza possível, naquele instante da Morte, foi um apelo de justiça e paz. E quando terminou a gravação, ouviram-se também na fita os tiros, que lhe arrebataram a vida terrena.

Ele mesmo, no entanto, profetizara: “Ressuscitarei em meio ao meu povo. Vivo dentro do povo”. Foi um exemplo na luta em defesa dos direitos humanos.

Em seus sermões dominicais, retransmitidos pelo radio, Dom Oscar Romero defendia os pobres, denunciava assassinatos, desmascarava os governantes corruptos e mentirosos. Romero foi indicado pelo parlamento britânico para o Prêmio Nobel da Paz de 1979. Perdeu o prêmio de Estocolmo para Madre Teresa de Calcutá.

Em todos os lugares, as comunidades recordarão as palavras que, poucos dias antes de ser morto, dissera Dom Romero: “Freqüentemente, tenho sido ameaçado. Como cristão, não creio em morte sem ressurreição. Se me matam, ressuscitarei no povo salvadorenho. (…) Como pastor, estou obrigado a dar a vida por aqueles que amo que são todos os salvadorenhos, até pelos que vão me assassinar. Ofereço a Deus o meu sangue pela redenção e pela ressurreição de El Salvador. O martírio é uma graça que não creio merecer. Mas, se Deus aceita o sacrifício da minha vida, que meu sangue seja semente de liberdade e o sinal de que, em breve, a esperança se tornará realidade…”

De fato, o seu sangue, derramado pelas balas assassinas, misturou-se, literalmente, ao vinho do cálice que ele sustentava para celebrar o memorial da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Ele não queria morrer, nem vivia uma espiritualidade baseada no sacrifício e na dor. Acreditava que o caminho para a intimidade com Deus passa pela solidariedade efetiva aos irmãos e irmãs, especialmente às pessoas mais carentes e oprimidas. Dizia que sem a prática da justiça e o compromisso pelos direitos humanos vividos por todos, a adoração a Deus é fantasia narcisista. Ora, El Salvador, menor país da América Central. tem 50% dos habitantes vivendo com menos de 10 dólares por mês. Desde 1932, militares, preparados pelo governo americano, dominam o país com mão de ferro.

As comunidades e o povo de El Salvador continuam resistindo. A ressurreição da qual falava Dom Romero já se manifesta no próprio milagre de sobreviver. Ele afirmava: “A glória de Deus é a vida dos pobres”.

Quase vinte anos depois, a memória deste profeta, carinhosamente conhecido pelas comunidades como “São Romero das Américas”, torna-se mais importante. 

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS 

Botão Voltar ao topo