Diocese de Assis

MAIS QUE COBRANÇA, EXIGÊNCIA!

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Várias são as maneiras de nos relacionarmos com as pessoas e com suas realidades. Cada pessoa é única e, não é justo tratarmos a todos da mesma maneira, sem levarmos em conta suas particularidades. Não como exceção, mas, como respeito. Por isso, a medida e o critério mais importante para o relacionamento humano é o respeito à pessoa em sua particularidade.

Pessoa não é um simples adjetivo para nomearmos o ser humano, mas, uma categoria de relacionamento, segundo a qual, o indivíduo considerado é racional: porque é capaz de pensar por si; livre: porque escolhe e decide o seu caminho, tem capacidade para agir ou não agir de acordo com a sua vontade; responsável: porque pode assumir as consequências dos seus atos, responder pela sua ação, assumir-se como seu autor e reconhecer-se na ação; autônomo: porque é capaz de escolher, decidir, optar e atuar por convicções próprias; pode  construir-se ao longo da vida; singular e único: porque cada pessoa é diferente de todas; tem características próprias; irrepetível: porque no tempo e no espaço; relacional: porque só é possível a construção da pessoa na relação que estabelece com os outros e com o mundo; comunicativo: porque todas as relações têm por base a comunicação.

Ver e tratar cada ser humano como pessoa é o marco referencial de uma nova ordem para o amor, experimentado como gratuidade, solidariedade, partilha, entrega e doação. Infelizmente, ao longo dos séculos, o advento e desenvolvimento de todas as economias baseadas na acumulação e no lucro temos visto crescer diante de nós e, em nós, o individualismo, a competição, a desigualdade, a má distribuição dos bens e das rendas e todas as formas de injustiça.

No modo de produção capitalista, dentro do qual o mundo se encontra, a exacerbação do lucro, da riqueza e do capital modificou as relações, dissolveu valores de proximidade, banalizou o prazer, enlouqueceu o poder, disseminou a competição, envenenou a rivalidade, patrocinou a onipotência dos bens.

Para o capitalismo, pessoa é número, cliente, consumidor e, porque não dizer, mercadoria. Suas ações são avaliadas segundo o critério de mérito e demérito. O indivíduo recebe ou paga. Tudo é passível de compra e venda. Somos credores ou devedores. Dívida, obrigação, débito, juro, taxa, imposto e cobrança este é ambiente no qual vivemos, nos movemos e somos. A vida tomou as feições de uma grande balcão de negócios e, salve-se quem puder. E do amor e,

O Cristianismo, diferentemente do capitalismo, porque considera cada indivíduo como pessoa; como gente; como filho de Deus, chamado ao amor e às suas exigências. Seu ser e seu fazer estão sob o critério do amor e suas exigências. Tudo o que uma pessoa é ou faz é passível da exigência do amor e, não do desatino da dívida e da cobrança.

É o caso exposto pelo evangelho de João sobre a mulher adúltera: “Jesus foi para o monte das Oliveiras. Ao amanhecer, ele voltou ao Templo, e todo o povo ia ao seu encontro. Então Jesus sentou-se e começou a ensinar. Chegaram os doutores da Lei e os fariseus trazendo uma mulher, que tinha sido pega cometendo adultério. Eles colocaram a mulher no meio e disseram a Jesus: ‘Mestre, essa mulher foi pega em flagrante cometendo adultério. A Lei de Moisés manda que mulheres desse tipo devem ser apedrejadas. E tu, o que dizes?’ Eles diziam isso para pôr Jesus à prova e ter um motivo para acusá-lo. Então Jesus inclinou-se e começou a escrever no chão com o dedo. Os doutores da Lei e os fariseus continuaram insistindo na pergunta. Então Jesus se levantou e disse: ‘Quem de vocês não tiver pecado, atire nela a primeira pedra.’ E, inclinando-se de novo, continuou a escrever no chão. Ouvindo isso, eles foram saindo um a um, começando pelos mais velhos. E Jesus ficou sozinho. Ora, a mulher continuava ali no meio. Jesus então se levantou e perguntou: ‘Mulher, onde estão os outros? Ninguém condenou você?’ Ela respondeu: “Ninguém, Senhor. Então Jesus disse: ‘Eu também não a condeno. Pode ir, e não peque mais.’” (8,1-11).

Tratada como pessoa, a mulher não recebeu cobranças, mas, foi situada numa nova referência de vida baseada em exigências pessoais fundamentais. Relacionar-se bem com os outros tem como fundamento e força o reconhecimento de cada um como pessoa. Essa é a verdade!

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