DIOCESE DE ASSIS
A PAZ PROVOCA A GUERRA
Fraternidade entre os povos é sonho antigo. A história oficial já catalogou mais de oito mil tratados de Paz. Significa que mais de oito mil vezes os povos foram oficialmente à guerra. É triste, mas real: guerra e paz caminham juntas.
Nos tempos modernos, muitos foram aqueles que selaram seus nomes na luta pela paz. Não há paz sem luta. Não há guerra que não aspire pela paz. Bem-aventurados os pacifistas, aqueles que lutam pela paz, que se identificam com a luta do fraco, que buscam a paz serena, plena, verdadeira, da justiça e solidariedade. Foi essa a bandeira de luta de Mahatma Gandhi, o mais ecumênico dos pacifistas contemporâneos.
Sua crença de nascimento foi o hinduísmo, religião que dividia a preferência do povo indiano entre a prática muçulmana também dominante, o budismo, e a prática cristã dos dominadores ingleses. Assim, além do estudo da Veda, a escritura hindu, lia igualmente o Corão, o Kalma e a Bíblia. Buscava pontos comuns entre as grandes religiões. Sobre esse pedestal de religiosidade floresceu sua luta pela não violência entre os povos. Principalmente entre os seus, cuja realidade colonialista lhes roubava a dignidade humana, a liberdade de escolha da própria profissão de fé e do destino político de sua pátria. Devolvia com uma moeda não de indiferentismo, repugnância ou ódio, mas impregnada de questionamentos, aureolada pela fundição lenta, amadurecida na forja dos sentimentos e sofrimento do seu povo. Disse a respeito: “Tenho uma moeda que não foi cunhada na casa da moeda deles e que não pode ser roubada. É superior a qualquer uma que ela produziu até agora. É a não violência. O símbolo é a roda de fiar (a máquina que exercita a paciência e solidifica a paz interior). Apresentei-a ao país com a mais completa confiança”.
Assim declarou guerra aos opressores de seu povo. Buscou inteirar-se de suas verdades, suas razões, seus direitos. Ingressou até mesmo numa faculdade inglesa por longos três anos de dura convivência- pois que este gesto lhe custou a incompreensão e o isolamento dos familiares. Voltou como advogado, versado nas escrituras cristãs, apaixonado sobremaneira pelo Sermão da Montanha: “Felizes os que promovem a paz”!
Por pouco não aceitou o batismo cristão. Só não o fez porque, diz textualmente: “experimentei pelo cristianismo uma certa antipatia; naquele tempo, viam-se com freqüência missionários cristãos, postados num canto de rua próximo do liceu, zombar, cobrindo de injurias, os hindus e seus deuses. Eu não podia suportá-los”. O processo de conversão cristã exigia radical mudança dos costumes hindus, tais como obrigá-los a comer carne e usar trajes europeus. Violentavam suas culturas.
Sua vida é hoje modelo de paz sem inércia, de ecumenismo sem falsetes ou imposições. Buscou por primeiro os fatores de unidade, afastando com veemência qualquer manifestação que o colocasse como salvador da pátria ou novo messias entre seu povo. “Não deixem ninguém dizer que é um seguidor de Gandhi. É bastante que eu seja seguidor de mim mesmo. Sei qual inadequado seguidor de mim mesmo eu sou, pois não consigo viver as convicções que defendo”. Foi assassinado em 1948 por um jovem fanático de sua própria religião.
A paz provoca a guerra? Na sua forma positiva, quando considerarmos contrários à paz todo sentimento ou ação que não vise o bem comum, o respeito aos direitos, às culturas ou diversidade de expressões de fé, o indiferentismo entre povos, classes sociais, a não solidariedade… Declaremos guerra a tudo isso. Então virá a Paz.
WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]